Por
Frederico Hanczaryk
A Imersão na Rua 25 de Março
Caminhar pela Rua 25 de Março, sem dúvida, é como navegar em um mar de pessoas, produtos e histórias. A arquitetura, marcada pelo abandono e pela deterioração, serve como pano de fundo para uma das economias mais vibrantes da América Latina. Ali, a sujeira se mistura com a vitalidade dos comerciantes, que transformam cada centímetro disponível em uma oportunidade de negócio. É um ambiente onde as regras do mercado são ditadas pela oferta e procura em sua forma mais pura. Não há contratos formais, mas sim acordos não escritos, forjados pela necessidade e pela confiança construída ao longo de muitos anos. Lá não existe Serasa e nem consultas sobre reputações, mas o sistema de conhecimento humano compartilhado, quase que por força de pensamento, faz com que todos saibam em quem não se pode confiar para fazer negócios – e todos sabem!
Durante minha caminhada, conheci pessoas que vivem e trabalham na 25 de Março há mais de 25 anos. Elas se tornaram parte desse ecossistema econômico, adaptadas a cada mudança no mercado e às inúmeras crises que o país enfrentou. Suas histórias são repletas de resiliência, com habilidades afiadas pela necessidade de sobreviver em um ambiente onde a concorrência é feroz e os perigos estão à espreita a cada esquina. Ali, em poucos passos, percebi que todos se encontram e celebram suas histórias em meio a milhares de pessoas. Eles se encontram e, quase que ao acaso, se misturam em negócios que compartilham até mesmo entre concorrentes. São vorazes e ferozes, mas civilizados mais do que na Faria Lima, com certeza.
Entre as vendas de ambulantes de diversos países assolados por tragédias sociais e naturais como Haiti, Venezuela, Bolívia, e países da África subsaariana, Sudeste Asiático e até da China, além de Armênia e Líbano, a 25 de Março é um polo de encontro global – uma miscelânea de línguas e culturas. Em lojas abarrotadas, é possível encontrar de tudo: desde eletrônicos de última geração, perfumes de grife, até o mais simples e barato produto como bijuterias e itens de skincare e maquiagem. A variedade de produtos reflete a diversidade da clientela, que vai do pequeno comerciante ao grande varejista, até mesmo ao consumidor em busca de uma pechincha. Contudo, não são apenas as mercadorias que se destacam. O contraste entre a riqueza gerada pelo comércio local e a miséria que coexiste lado a lado é chocante. Em plena luz do dia, é comum ver pessoas consumindo drogas, uma triste realidade que mancha o vibrante cenário econômico.
Faria Lima: A Economia do Luxo e do Mercado Financeiro
Por outro lado, em contraste, a Avenida Faria Lima exibe seu esplendor de arranha-céus espelhados, onde executivos de terno passam apressados, mal percebendo o caos organizado do mercado financeiro. Lá, a riqueza não está nas mãos de comerciantes e negociantes, mas nos fluxos invisíveis de capital que movem ações, contratos futuros e especulações. A mão invisível de Adam Smith, como ele descreve em “A Riqueza das Nações”, opera com eficiência implacável, ditando as regras do jogo econômico em um ambiente onde os ganhos e as perdas podem ser astronômicos. Os contrastes ali também existem: pessoas em condição de rua, consumindo bebidas e outras substâncias, também podem ser observadas, mas não é incomum que as autoridades, de tempos em tempos, as levem para outras localidades.
Assim como na 25 de Março, onde cada transação reflete a dinâmica do mercado, a Faria Lima mostra que, apesar das diferenças, a essência do comércio permanece a mesma. A Faria Lima pulsa com a mesma intensidade que a 25 de Março, mas de uma forma diferente. Se na 25 de Março a energia é visível, com comerciantes gritando suas ofertas e clientes barganhando, na Faria Lima, ela é quase silenciosa, operando nos bastidores dos grandes escritórios e no ritmo frenético dos mercados financeiros globais. Aqui, o caos também existe, mas é o caos das cotações que sobem e descem, dos negócios fechados em segundos e das estratégias especulativas que podem fazer ou quebrar fortunas.
Duas Faces da Mesma Moeda: Economia em Movimento
Apesar das diferenças aparentes, a 25 de Março e a Faria Lima têm muito mais em comum do que se imagina. Ambas são governadas pela mesma lei de oferta e procura, onde o mercado, com suas regras explícitas ou implícitas, dita o ritmo das transações. Na 25 de Março, as regras não estão escritas, mas são seguidas à risca por todos que participam daquele ecossistema. As pessoas na 25 de Março cumprem contratos informais com a mesma seriedade que os empresários na Faria Lima respeitam os contratos formais. E assim, em meio ao luxo do bourbon nos bares sofisticados da Faria Lima ou ao corote de pinga consumido nas vielas da 25 de Março, o mercado continua a girar, inabalável.
Adam Smith, com sua teoria da mão invisível, descreveu um princípio que é igualmente aplicável a esses dois mundos. No caos do mercado financeiro ou na desordem organizada da 25 de Março, as forças econômicas operam de maneira semelhante, movendo capital, recursos e pessoas de forma quase automática, sem a necessidade de uma autoridade central para dirigir o fluxo. A Faria Lima e a 25 de Março são, portanto, duas faces da mesma moeda, onde a economia, seja ela de luxo ou de subsistência, segue suas próprias regras, mas sempre em busca do mesmo objetivo: a sobrevivência e a prosperidade.
Conclusão: Uma São Paulo de Contrastes e Conexões
Além disso, minha imersão na Rua 25 de Março e na Avenida Faria Lima me mostrou que, embora sejam mundos diferentes em muitos aspectos, ambos compartilham a mesma pulsação econômica. São Paulo, com sua diversidade e seus contrastes, é o palco perfeito para observar como a economia opera em suas mais variadas formas. Sejam os comerciantes da 25 de Março ou os executivos da Faria Lima, todos fazem parte de um sistema econômico que, apesar das diferenças, segue as mesmas leis fundamentais.
Portanto, caminhar por esses dois mundos me fez perceber que, no fundo, a economia é um reflexo da humanidade em toda a sua complexidade, onde o luxo e a miséria coexistem, e onde o caos e a ordem se encontram para criar o movimento incessante do mercado. Resta agradecer ao meu guia e professor Brino, que me mostrou um mundo que jamais pensei existir e certamente me ensinou muito sobre econômia aplicada.
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